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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ossos de judeus vítimas da inquisição em Portugal são achados em escombros.

De Lisboa:

27/08/2015 06h00 


Os restos mortais de três homens e nove mulheres encontrados por uma equipe de pesquisadores portugueses serviram para descobrir onde e como eram sepultados os judeus acusados de serem hereges por não renunciarem sua fé.

O antropólogo Bruno Magalhães, membro da equipe, reconheceu que já se sabia que os judeus não eram enterrados em cemitérios católicos, mas que só agora entenderam com exatidão o que era feito com eles: os corpos eram jogados na lixeira.

"O objetivo era não só punir o corpo da pessoa, mas também castigar a alma", disse Magalhães, em entrevista à Agência Efe, acrescentando que classes diferentes de pecadores tinham direito a outro tipo de tratamento.

"Há uma grande diferença para determinar o funeral, segundo a acusação. Por exemplo, um acusado de bigamia era enterrado em uma igreja", afirmou, acrescentando que as investigações também revelaram que esses judeus hereges sequer tinham chegado a ser condenados a morte, falecendo ainda enquanto estavam presos.

"Jogavam ali nos escombros às pessoas que morriam enquanto estavam na prisão e esperavam ser julgados. É possível notar isso perfeitamente", explicou Magalhães.

O material fóssil, encontrado em uma lixeira localizada no pátio do antigo palácio do Santo Ofício, pertence a hereges que morreram em Évora entre 1568 e 1634, no auge da inquisição católica.

A cidade portuguesa, que fica a 180 quilômetros de Lisboa, foi sede do primeiro tribunal inquisidor do país devido à presença da Corte Real Portuguesa.

O antigo palácio do Santo Ofício, que julgou pecadores até o final do século 18, ainda está em uso. Atualmente funciona como um espaço cultural destinado a exposições e projetos artísticos, com o nome de Fórum Eugênio de Almeida.

Junto aos restos mortais dos 12 judeus, os pesquisadores identificaram cerca de 1.000 ossos que poderiam pertencer a outros 16 prisioneiros.

As escavações, iniciadas em 2007 pela Universidade de Évora e pela empresa arqueológica, contaram com o apoio de antropólogos associados ao Museu do Congresso e da Inquisição, no Peru, e ao Museu da História da Inquisição, no Brasil, países colonizados por Espanha e Portugal, respectivamente.

O atual grupo que lidera os trabalhos, formado por representantes da Universidade de Coimbra e do Centro de Pesquisa em Antropologia e Saúde (CIAS), recorreu à ajuda de documentos de registros da inquisição, guardados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.

Além do Tribunal da Inquisição de Évora, o Santo Ofício de Portugal tinha instalações em Lisboa, Porto, Coimbra, Tomar e Lamengo, desativados por ordem do Marquês de Pombal, quando foi primeiro-ministro de Portugal na segunda metade do século 18.