Tão improvável quanto a arquitetura foi a localização escolhida –Anchieta, bairro pobre da zona norte do Rio, próximo ao violento complexo de favelas do Chapadão e distante de roteiros culturais.
"Eu herdei dois terrenos, por isso decidi construir ali. E busquei na arquitetura islâmica uma forma de chamar a atenção das pessoas", diz Mello, mestre em arqueologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense).
As colunas, arcos e cúpulas do Museu da Humanidade ganharam forma em 14 anos de obras –o local passou a receber visitas de grupos e escolas em 2009. Dentro, o piso é de mosaicos de mármore e as paredes trazem inscrições em árabe thuluth. O lugar vale R$ 2 milhões, de acordo com o idealizador.
Segundo Mello, o palácio foi construído com dinheiro próprio, fruto do trabalho em escavações, cursos e palestras. Ele comandou, por exemplo, a equipe de escavação arqueológica das obras do metrô de Ipanema e do Leblon, na zona sul do Rio.
"Há diferentes apaixonados por história. O saudosista gosta de lembrar o passado. O colecionador precisa ter posse das peças. O preservacionista é preocupado com o patrimônio em geral. Eu sou todos eles em um só", diz.
A coleção abrange peças desde a Antiguidade até o século 19. São milhares de moedas, frascos, roupas, móveis. De um vaso grego do século 3º a.C. a um sacrário jesuítico espanhol de 1620.
Para aumentar a coleção, Mello procura em sites de leilão –foi assim que comprou por R$ 1.000 uma das 50 réplicas da lâmpada original de Thomas Edison, de uma edição especial de 1929.
O arqueólogo também conserva as notas fiscais, registros de importação e atestados de autenticidade para comprovar a origem e o pagamento de impostos das peças.
Além dos itens de sua coleção, o palácio armazena artefatos públicos por meio do Ipharj (Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio de Janeiro), organização privada fundada por Mello.
Com ajuda financeira do governo do Rio, o instituto mantém 1.400 peças das escavações das obras do metrô do Rio, incluindo um penico e uma escarradeira do século 19, além de azulejos e moedas do 2º Reinado (1840-1889).
Como as peças são patrimônio público, o palácio quase preciso uma fortaleza para recebê-las. Foram instaladas 40 câmeras de segurança, sensores infravermelhos e 90 extintores de incêndio.
A sala que guarda esses itens tem ainda equipamento para controle de temperatura e umidade, para a conservação dos artefatos. Mello espera abrir sete salas para visitas sem agendamento no fim do ano e busca doações para as demais.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/04/1765932-arqueologo-cria-museu-com-90-mil-pecas-em-palacio-islamico-no-rio.shtml