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terça-feira, 10 de junho de 2014

Cacique formado na USP sonha com mestrado para ser referência

Um de seus objetivos é criar um vestibular específico para os indígenas.Ubiratã Awá Baretédju, de 37 anos, mora em aldeia de Peruíbe, SP.
Mariane RossiDo G1 Santos
Cacique Ubiratã, em Peruíbe, SP (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)Cacique Ubiratã, em Peruíbe, SP (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)

Um cacique formado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP) quer se tornar um mestrando em Antropologia. Morador de Peruíbe, ele já é responsável pelas aldeias do litoral paulista e quer ser referência em educação no País. Um de seus objetivos é criar um vestibular específico para os indígenas.


Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú, de 37 anos, nasceu e foi criado na aldeia Bananal, em meio à Mata Atlântica e a cerca de 15 quilômetros do Centro de Peruíbe. A aldeia, uma das mais antigas da região, com cerca de 300 anos de existência, abriga aproximadamente 13 famílias. Os índios coletam frutos, produzem sucos para consumo próprio, fazem o reflorestamento por meio de sementes e preparam mudas para o comércio. Na aldeia, as tradições indígenas dos tupis-guaranis também permanecem intocáveis. Apesar de já terem acesso à internet, à energia elétrica e outras tecnologias, perpetuam características de seus antepassados. Vivem da caça, da pesca, da confecção e venda de artesanato e de apresentações culturais.
Cacique Ubiratã, em Peruíbe, SP (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)Cacique Ubiratã, em Peruíbe, SP (Foto: Ubiratã
Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)
A educação é a base para que as crianças indígenas e as próximas gerações possam eternizar os costumes e crenças de seu povo. “Na realidade, a educação indígena é aquela que nós aprendemos com os nossos antepassados, mas a educação escolar indígena é aquela que temos dentro das escolas”, fala o cacique. Por isso, as escolas indígenas foram montadas dentro das aldeias da Baixada Santista. Segundo o cacique, elas estão distribuídas nas cidades de São Vicente,Praia GrandeMongaguá e Peruíbe.
O ensino é diferenciado porque une as tradições indígenas com as disciplinas convencionais, encontradas em qualquer escola dos centros urbanos. “Antes, a educação era voltada à integração nacional e falava-se que o indígena não fazia parte da sociedade. Não podíamos fazer manifestações culturais, tirar dúvidas nas escolas. A própria educação era administrada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) na década de 1980. Em 1996, com algumas leis, o cuidado em relação às escolas indígenas passou para o Ministério da Educação (MEC). Essa lei nos beneficiou muito”, diz ele. Com as escolas indígenas, eles também têm mais autonomia para criar projetos político-pedagógicos, materiais didáticos e dinâmicas em grupo. Nas escolas, há desde o ensino infantil até nono ano. “Eu tenho aluno que, com quatro anos, já está lendo. As nossas escolas indígenas teriam que ser mais divulgadas”, explica.
Cacique após se formar em Pedagogia na USP (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)Cacique após se formar em Pedagogia na USP (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)
O cacique e outros índios receberam capacitação para atuar nesses centros especializados de ensino. Entre 2006 e 2008, eles fizeram o Curso Superior Indígena de Pedagogia na USP. As aulas eram ministradas no campus da faculdade uma vez por semana e também aconteciam na prática, dentro das aldeias. “Nós recebemos a formação em serviço, que foi melhor aproveitada. Quando se faz uma pedagogia formal, você adquire muitas teorias. No nosso caso, ficávamos uma semana em São Paulo e depois voltávamos para as nossas escolas, nossas aldeias, e aplicávamos lá”, conta o cacique. Após se formarem, eles começaram a atuar nas escolas indígenas de maneira efetiva, com material oferecido pelo Estado e pelo Governo Federal. Mas, segundo o cacique, os livros e líderes que falam sobre a cultura indígena já estão defasados. De acordo com ele, o discurso é sempre sob a visão do não indígena, o que prejudica a imagem das comunidades.
Ubiratã durante palestra em encontro (Foto: Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)Ubiratã durante palestra em encontro (Foto:
Ubiratã Gomes Awá M´Baretédjú/Arquivo Pessoal)

Por isso, o cacique quer ter mais conhecimento e ser referência no ensino dos indígenas. Formado em Pedagogia, agora ele busca um mestrado. No ano passado, ele passou por várias fases do processo seletivo, mas, na última, foi barrado pela banca avaliadora. Segundo ele, o motivo dado pelos professores foi a falta de referências bibliográficas no projeto apresentado, mas ele acredita que houve outros problemas. “Três aprovaram e um não. Foi frustração mesmo. Eu creio que tenha sido preconceito, porque os argumentos foram muito vazios. Pretendo não desistir nunca, ainda mais sendo brasileiro nato como eu. Sei que tenho capacidade para isso. Também sei que vai ser difícil, sendo indígena ou não”, diz.



O cacique ficou decepcionado com o resultado e decidiu não tentar o processo seletivo para o mestrado neste ano. No entanto, ele não parou os estudos e a produção de cultura, abriu uma produtora e está fazendo documentários dentro da aldeia sobre o mundo indígena. Ele e a esposa são responsáveis pela gravação, produção e edição de todo o material. Além disso, o cacique continua participando de projetos dentro da USP, principalmente os ligados à Antropologia, sempre em prol da educação da comunidade indígena no Brasil. "Quero criar um vestibular especifico para indígenas. A educação indígena hoje é uma grande referência. Junto às lideranças, estamos procurando formar cidadãos, com uma cultura que se fortalece a cada dia”, conclui.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Rei Juan Carlos da Espanha abdica em favor de seu filho

Rei disse que renuncia para 'abrir uma nova etapa de esperança'. Príncipe Felipe de Borbón (Felipe 6º)  será proclamado no dia 18 de Junho.

Em discurso à nação, Juan Carlos, de 76 anos, afirmou que decidiu abdicar em favor do filho para que se possa "abrir uma nova etapa de esperança na qual se combinem a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração".

"Decidi colocar fim ao meu reinado e abdicar da coroa da Espanha", informou o monarca, ressaltando "um impulso de renovação, de superação, de corrigir erros e abrir caminho para um futuro decididamente melhor".

O rei disse que "hoje uma geração mais jovem merece passar à primeira fila" para empreender "as mudanças e reformas exigidas pela atual conjuntura".
O Rei Juan Carlos da Espanha durante anúncio de sua abdicação nesta segunda-feira (2) (Foto: Spanish Royal Palace/AP)Juan Carlos durante anúncio de sua abdicação nesta segunda-feira (2) (Foto: Spanish Royal Palace/AP)
"Estes anos difíceis nos permitiram fazer um balanço autocrítico de nossos erros e de nossas limitações como sociedade", declarou, com semblante sério, em um discurso simples de seis minutos, gravado no Palácio da Zarzuela, em Madri.
"Meu filho Felipe, herdeiro da Coroa, encarna a estabilidade que é sinal de identidade da instituição monárquica", acrescentou Juan Carlos, que, apesar de ter passado por várias cirurgias nos últimos anos, havia declarado recentemente que não abdicaria do trono.
O rei assegurou que, "fiel ao desejo político" de seu pai, o Conde de Barcelona, de quem herdou o legado histórico da monarquia espanhola, quis ser o "rei de todos os espanhóis". O monarca expressou sua gratidão à rainha Sofía, "cuja colaboração e generoso apoio não me faltaram nunca".
O rei também disse que pensou em deixar o cargo em seu aniversário de 76 anos e que, ao olhar para trás, pode "apenas sentir orgulho e gratidão" em relação ao povo espanhol.
Decisão política
Uma fonte do palácio real informou à agência Reuters que os motivos da abdicação são políticos, e não de saúde. "É uma decisão política. Ele está abdicando devido aos novos desafios na Espanha, porque acredita que é necessário dar espaço para a nova geração", afirmou a fonte.

"Vi o rei convencido de que esse é o melhor momento para que possa acontecer, com toda a normalidade, a mudança na chefia de Estado e a transmissão da coroa ao príncipe Felipe, que reinará como Felipe VI", disse o premiê Rajoy.
O rei da Espanha chegou ao trono em 22 de novembro de 1975, apenas dois dias depois da morte do ditador Francisco Franco, que o havia nomeado seu sucessor. Muito popular, especialmente após fazer oposição a uma tentativa de golpe de Estado em 23 de fevereiro de 1981, o monarca viu sua aceitação cair entre os espanhóis nos últimos anos, após uma série de escândalos.
Seu filho, Felipe de Borbón, de 46 anos, se tornou Príncipe das Astúrias, título do herdeiro da Coroa espanhola, em janeiro de 1977.
Sua filha, princesa Cristina, e o marido dela, Iñaki Urdangarin, estão sendo investigados em um caso de corrupção. Ambos negam qualquer irregularidade. Um juiz em Palma de Mallorca deve decidir em breve se Urdangarín irá a julgamento pelas acusações de desvio de 6 milhões de euros de fundos públicos por meio de entidades beneficentes.
Em seu pronunciamento no Palácio da Moncloa, sede do Executivo, Mariano Rajoy lembrou o papel do rei na transição democrática na década de 1970, após a ditadura de Francisco Franco, e disse que ele "foi um defensor infatigável" dos interesses da Espanha. "O rei deixa uma impagável dívida de gratidão a todos os espanhóis."
Rajoy prestou homenagem ao rei ao afirmar que "renuncia ao trono uma figura histórica tão estreitamente vinculada à democracia espanhola que não é possível entender uma sem a outra".
Rajoy acrescentou que convocou para esta terça-feira (3) um Conselho de Ministros extraordinário para tramitar a renúncia do rei ao trono, mediante a aprovação de uma Lei Orgânica como estabelece a Constituição espanhola.
"Quero transmitir que este processo se desenvolverá em um contexto de estabilidade institucional e como prova da maturidade de nossa democracia", disse Rajoy.
Príncipe da Espanha, Felipe  e princesa Letizia (Foto: AFP)
Príncipe Felipe assumirá o trono, e Letizia Ortiz será
a nova rainha da Espanha. (Foto: AFP)
O parlamento já iniciou os preparativos para a tramitação da abdicação de Juan Carlos I, assim como para o ato de coroação do futuro rei Felipe VI.
Após o governo aprovar nesta terça o texto da lei, o Executivo deverá receber o sinal verde da Mesa do Congresso, que abrirá um prazo para que os grupos parlamentares apresentem emendas.
As leis orgânicas, relativas ao desenvolvimento dos direitos fundamentais ou da Coroa, necessitam da maioria absoluta do Congresso para serem aprovadas. Uma vez que a norma obtenha o sinal verde da câmara baixa, passará ao Senado e, se este não introduz modificações, será aprovada definitivamente.
Foto de 10 de junho de 1971 mostra o então príncipe Juan Carlos ao lado do ditador Francisco Franco (Foto: AFP)Foto de 10 de junho de 1971 mostra o então príncipe Juan Carlos ao lado do ditador Franco (Foto: AFP)
 A abdicação é uma medida excepcional na Coroa espanhola. Nos últimos séculos, só foi realizada em seis ocasiões, a última em 1941, quando Alfonso XIII renunciou em favor de seu filho Juan de Bourbon, pai do rei Juan Carlos.

A vitória de partidos republicanos nas eleições municipais em 1931 acabou ocasionando a abdicação de Alfonso XIII e a imediata proclamação da República. Exilado em Roma, Alfonso XIII abdicou em favor de seu terceiro filho, Juan de Bourbon, pouco antes de morrer, em 1941.
Juan de Bourbon nunca chegou a reinar e, em 1977, apresentou oficialmente a renúncia aos seus direitos ao trono perante seu filho, o rei Juan Carlos – que já era chefe do Estado desde 1975, após a morte do ditador Francisco Franco.